E chega um ponto que eu paro de contar. Toda a dor de saudade e a pior face da ausência estão juntas dentro de mim. Sempre houve saudade e ausência, mas existia a esperança do reencontro. Em nossa eterna solidão o que nos mantém vivos é a esperança em esbarros e encontros. Quando vem a despedida percebe-se enfim que a vida é curta.
A vida é curta demais para amar de menos. A vida é curta demais para se dar o luxo de não falar o que é realmente importante, curta para guardarmos em nós os abraços, os sorrisos, as pequenas demonstrações de amor.
E agora vem todas aquelas idéias na cabeça sabe? As mesmas de sempre...
“Eu deveria ter ligado, deveria ter mandado uma carta, contado como era importante.”
Mas a vida é curta e o futuro é incerto. Fica aqui o não dito, a ausência, a saudade irreversível.
Quando ela se foi eu procurei pela casa toda a maldita fotografia com ela. Tive medo de esquecer o rosto dela. Que saco, dói demais.
Mas eu não achei o retrato. Então ontem, eu cheguei em casa como sempre atolada e correndo. Larguei tudo e fui para o ensaio sem a menor vontade. Não prestei atenção em nada. Quando voltei e sentei em frente ao computador continuei sem perceber. A vida corrida rouba com vontade os detalhes. Então eu parei por dois minutos de trabalhar como uma louca em algum projeto urgente, levantei meus olhos e lá estava. Minha mãe achou a fotografia e fez o favor de prender no meu quadro imantado. Chorei. Sorri. E senti toda a saudade e a dor que eu enterro todo dia bem no fundo da minha alma. Quantas vezes eu passo correndo pelas pessoas como passei pela fotografia. A vida é curta demais.
E chega um ponto que eu paro de contar os dias de ausência, os meses desde a notícia da morte. A vida é curta demais. Transformo a maldita fotografia em meu ‘wake up call’. Para lembrar que a minha existência é insignificante e guardar as palavras de amor é uma tolice sem igual.
Sempre vou sentir saudade, mas a vida também é curta para sentir culpa. E a foto fica ali olhando para mim, eu amo e sou amada. No final das contas é isso que importa. Como ela sempre dizia quando nos dava aula: ‘pequeno, mas precioso’.
(Que saco, dói demais.)