Virei-me sobre a minha própria existência e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza."
(Cecília Meireles, Noções)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Boas Notícias!


Alegram...
como flores em dia de primavera
Aquecem...
como abraço de criança
preenchem...
E por fim, meu sorriso se faz presente
Esperança...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Amiga Aninha: alegria para um dia triste.

Eu e Ana Cristina - Recife, 2010


"Vai dizer a todos que a alegria desistiu
E me deixou aqui, sentada
o dia parece que ainda não surgiu(...)"
(Qualquer, Tuttu Madre)


Quando o dia amanheceu a minha alegria tinha desistido. Durante todo o dia meu coração doeu em partes que eu nem acreditava que existiam. Chorei para dentro, por dentro, sem cessar. Falamos sobre a dor, seus significados e sobre como no jogo eterno da linguagem, a dor pode ser compreendida, nomeada, mas o sentir é absolutamente singular. Hoje eu fugi da solidão. Tentei não ficar sozinha comigo mesma. Se eu ficar sozinha eu choro; se eu chorar eu admito; se eu admitir eu fraquejo; se eu fraquejar eu desisto. Se eu desistir...
E no meio desse dia inevitavelmente ruim eu me vi sentada, tentando escrever umas folhas sobre memória, sozinha. No meio desse emaranhado de emoções eu não quero sentar e ficar parada sentindo dor. Se eu parar a dor aumenta e por si só ela já beira o insuportável. Fiquei em silêncio, mantive em mim tudo que poderia se transformar quando atingisse a superfície da minha alma. Forcei uns sorrisos, comprei umas risadas, me escondi atrás de mim mesma.
E então vejo-a entrar, porta a dentro de mim inesperadamente. Os amigos de fato não precisam requerer permissão - ainda que por vezes o façam- , mas hoje, se ela a tivesse pedido, eu teria me perdido, esquecido e por fim estaria ainda escondida. Ana entrou sorrindo no departamento e sentou-se ao meu lado. Talvez ela nunca perceba a dimensão de como esse gesto foi fundamental hoje, sorrir é apenas o estado normal dela. No final do expediente, já quase cinco horas, não esperava mais nada do dia, do mundo e por alguns instantes nem na vida eu acreditei. A alegria tinha desistido de mim com vontade. No inverno da minha vida eu não via possibilidade de primavera. E hoje, nada se compara ao sorriso de uma amiga.
Eu poderia ter feito qualquer coisa, comprado milhares de livros, roupas. Poderia ter andado de montanha-russa. Poderia ter recebido um 10 em uma prova. Nada teria o efeito do sorriso da Ana.
Era o sinal da primavera, me mostrando que o inverno vai passar.
Era minha amiga, meu 'wake up call', me contando que eu não posso desistir da alegria.
Ela não fez nenhuma mágica, a dor não foi embora, mas, repentinamente, o fardo se torna leve quando lembro que os amigos seguem comigo.
Era minha amiga me contando que as lágrimas eventualmente irão embora.
Guardo comigo o sorriso de hoje, nem todo o neologismo do mundo seria capaz de descrever tudo que ele representa nesse momento.
E nas pequenas coisas, através de gestos de amizade, nos lembramos mais uma vez que a vida vale a pena.