Virei-me sobre a minha própria existência e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza."
(Cecília Meireles, Noções)

domingo, 31 de outubro de 2010

Satélite


Tentei alcançar a lua
viajar até ela
para fugir da dor crua
que em meu coração martela
mas meu esforço foi vão
os dedos esticados não são suficientes
meus pés continuam no chão...

tentei alcançar a lua
só para não desistir
quis tentar de novo
realmente eu queria fugir
do hiato insistente
da dor renitente
em busca de renovo

olhei por fim para lua
satélite distante, indisponível
deixei de lado a luta nua
esqueci por fim o intransponível
deitei-me enfim, em busca de imaginar
fechei os meus tristes olhos molhados
e quando os abri estava na lua com olhar de surpresa esbugalhado
não existem fronteiras quando decidimos (novamente) sonhar

(Ag)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Passeio


A menina com a cabeça no vento
sorriu com gentileza
ela mesma encantava o tempo
fazia mágica com destreza
inventou o não ter fim
passeando feliz
estava (cantando) dentro de mim

(Ag)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Estrelas estrada



Deitadinha vi estrelas
todas presas no borrão azul do céu
são elas também as minhas estradas
quando sigo andando ao léu...
(Ag)

sábado, 23 de outubro de 2010

#prontofalei

Eu estou sensível. #prontofalei
Essa linguagem de Twitter muito me diverte, e uso-a por ser exatamente assim que me sinto. Admitir que 'tá' doendo é ruim demais. Três semanas parece pouco para superar tudo, mas é muito para se viver sem alguém. Estar sensível é um estado quase constante já que eu não consigo mais chorar tudo de uma vez, colocar para fora, desabafar. Não. Eu choro por dentro, sem parar, copiosamente. E dói demais. Faltam-me as palavras mil que ficam presas na garganta enquanto ouvem o soluçar do meu coração ferido. O que fazer com a dor insistente que prossegue latente martelando minha alma, esmagando meus dias, destruindo minha calma?
E este é meu desabafo, meu #prontofalei, com isso encerro...
sem palavras, deixo as reticências... (será que caberá dentro delas toda a dor indizível de uma saudade indescritível?)

domingo, 17 de outubro de 2010

Choro escrito




"Tem pena de mim
ouve só meus ais
eu não posso mais
tem pena de mim"
(Tom Jobim - Chora Coração)

As palavras se esvaziam

como em uma pausa sem sentido
um hiato descabido
um vão inesperado
como susto repentino
vazio desesperado 
para quem fica
E a saudade que preenche
faz chorar
faz sofrer
como um sussurro renitente
que me impede de viver
Pois quero mais
Queria você
E a ausência que invade fala de ti
e eu falo contigo como louca
balbuciando palavras vazias,
já ditas
na tentativa de reviver o pretérito
que brutalmente transformou-se 
e cabe a mim fazer o inquérito
questionar só para ocupar-me
chorar de novo tua morte
velar mais uma vez teu corpo
desejar um outro norte
e prosseguir. 
As palavras se esvaziam
e cabe no vão,
no hiato esburacado ,
a dor de quem chora gritando não
e de quem ora clamando "aba"
E cabe em mim tudo de si
que chora em mim a tua ausência
e em eterna paciência 
fico na janela esperando seu retorno,
nosso encontro
que perdeu-se no hiato
e no entanto, não será olvidado.